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Caro Mister,
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E… conforme eu esperava (há meses) o Sporting “espalhou-se ao comprido” no Dragão. Agora cabe-nos a todos dissecar o resultado e tentar perceber porque razão claudicámos de forma tão vergonhosa. Rezo para que não tenha sido meramente por azar, pois essa é uma variável que nem eu (nem ninguém) pode superintender.
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Para além de todas as outras razões (e que são várias) podemos igualmente alegar que o Sporting teve azar no Dragão? Sim, não creio que esteja a devanear se tal o afirmar. Tivemos azar, o FC Porto teve sorte, mas também foi mais competente. E foi isso tudo, possivelmente durante e antes (meses) do jogo em si.
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No entanto, para além de questões relacionadas com sorte, ansiedade, falta de fibra (dos jogadores) e de uma (hipotético) deficiente erguimento do plantel, etc. Penso que também podemos atribuir uma % da culpa a alguma improficiência da parte de Rúben Filipe Amorim.
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O Mister Rúben pegou nas rédeas do SC Braga a 4 de Janeiro de 2020, e por lá ficou até 1 de Março do mesmo ano. Nesse período “loiro” de 57 dias, Amorim defrontou o FC Porto em duas ocasiões, a 17 de Janeiro no Dragão e a 25 de Janeiro na Pedreira, portanto, 13 e 21 dias após “tomar posse”.
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E a verdade, é que ganhou ambos os jogos. E agora, inquiro eu, nesses 2 embates, Amorim tinha melhor equipa do que presentemente tem no Sporting em Agosto de 2022? Na minha opinião, não tinha.
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Eu admiro frequentemente os plantéis do Sporting Clube de Braga, e em Janeiro de 2020 tinham nomes como Matheus Magalhães, Vítor Tormena, Ricardo Esgaio, Nuno Sequeira, João Palhinha, Wilson Eduardo, Paulinho, Francisco Trincão, David Carmo, Ricardo Horta e Wenderson Galeno. E na minha aferição, alguns (alguns…) desses jogadores até terão habilidade para exibir a sua arte num patamar clubístico mais elevado, enquanto outros, não têm “asas” para se altearem tão alto.
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Somente nestes últimos 18 meses, Rúben Amorim defrontou o FC Porto em 6 ocasiões, tendo empatado as 3 primeiras, e perdido as 3 últimas:
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1) A 27 de Fevereiro de 2021 empatou 0-0 no Dragão.
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2) A 11 de Setembro de 2021, empatou 1-1 em Alvalade.
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3) A 11 de Fevereiro de 2022 empatou 2-2 no Dragão.
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4) A 2 de Março de 2022 foi derrotado por 2-1 em Alvalade.
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5) A 21 de Abril de 2022 foi derrotado por 1-0 no Dragão.
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6) A 20 de Agosto de 2022 foi derrotado por 3-0 no Dragão.
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Aliás, Rúben Amorim não derrota o FC Porto há 581 longínquos dias, ou mais especificamente, desde 19 de Janeiro de 2021 quando derrotámos a equipa de Sérgio Conceição em Alvalade por 2-1, curiosamente, com 2 golos de Jovane Cabral.
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Se a equipa que jogou há 581 “claridades” era melhor que a actual? Não creio, entre outros, nessa noite jogaram Tiago Tomás, Antunes, Jovane, Daniel Bragança, Gonzalo Plata e Nuno Santos. Na minha opinião, não estamos propriamente a falar de colossos.
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Que fique claro, ninguém assinou nenhuma “Procuração” a mandatar-me para “atacar” Rúben Amorim. Ao contrário de alguns que andam pela televisão, eu não sou “ponta-de-lança” de ninguém, e quando eu jogava (há 35 anos..) até era médio defensivo, e tinha menos jeitinho para a coisa que o mítico Fernando Aguiar…
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Pessoalmente, gosto de Rúben Amorim, e espero que ele fique no meu Sporting durante mais uns anos. Talvez não por mais uns 20 aniversários, mas seguramente seria insensato mudar de treinador, quando ele para mim, é o melhor que vi no Lumiar em 39 anos que tenho de ir em peregrinação até Alvalade. Mas também ele não pode estar imune à nossa “desaprovação”, desde que lógica e emocionalmente lúcida.
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Quando não se ganha a um adversário específico há 83 semanas, período esse em que o Sporting tem tido plantéis bastante interessantes, é natural que cogitemos factores para além da sorte, da idoneidade dos árbitros, etc.
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Não nos podemos dar ao luxo supérfluo de nos perdermos em “labirintos” de desânimos prolongados, delírios persecutórios, “guerras civis” e paranóias.
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Há que lidar com os factos e os paradigmas, e eles são frios e cruéis, mas deles não devemos desconfiar. Como diria Sir Arthur Conan Doyle, “quando eliminamos o impossível, o que sobrar só pode ser a verdade, pois mais improvável que ela possa parecer.”
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Entendo perfeitamente que Rúben esteja desiludido e até agastado com a SAD por ter vendido Matheus Nunes, mas com o devido respeito, nosso estimado Mister. Não creio que seja a saída de Matheus que explique todos os minutos de jogo que Paulinho, Ricardo Esgaio e Luís Neto tiveram direito tido nestes últimos 2 anos.
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Quem é que deu o aval à contratação de Esgaio, de Paulinho, de Rochinha e de André Paulo? Com a anuência de quem é que Chico Lamba e Daniel Bragança fazem parte do plantel?
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Sobre o absentismo de Matheus Nunes, devo escrever que nos últimos 30 minutos da 1ª parte no Dragão, os nossos não tiveram capacidade física para passar do meio-campo, com muito mérito da pressão acometida pelos Azuis-e-Brancos.
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À margem de sortes, azares, tácticas e alienações de activos, quer-me parecer que também há aqui um bloqueio de ordem psicológica. Por alguma razão, unidades como Pedro Porro, Luís Neto, Francisco Trincão, Marcus Edwards, Pote e Adán estiveram em claro sub-rendimento na fortificação do nosso arquirrival.
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Se eu fosse de simplificar a “coisa”, eu escreveria que a principal diferença neste jogo esteve no facto de Diogo Costa (e os ferros da baliza à sua guarda) ter sido mais hábil do que Antonio Adán.
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Se gostei da arbitragem? Não, não gostei, mas seria ilusório (embora “estupidamente confortante“) colocar aí as nossas “pontarias“, e enfiarmos os nossos delírios nessa “toca de coelho“.
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Tendo escrito isso (sobre a “apitagem”), o facto de terem havido dois penalties e uma expulsão contra nós, leva-me a temer algo bem pior do que a derrota. Leva-me a recear que até 12 de Fevereiro de 2023, vamos ter que levar com “media scrums“, comunicados, “tweets” e editoriais do Dr. Varandas e de Miguel Braga (Director de Comunicação) a “acirrar” (e “acicatar”) os nossos nemesis, e com os resultados brilhantes que daí já extraímos na época transacta…
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Perder é mau, mas vitimização pública na minha opinião é patética. O Dr. Varandas no final esteve bem, deu os parabéns aos vencedores, e a partir daí, a melhor estratégia de comunicação seria reduzir à insignificância o volume do “ruído comunicacional”, seja ele institucional ou Presidencial.
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Confesso que senti uma temperatura inclemente nas minhas vértebras sacrolombares quando ouvi o Presidente dizer “não estejam preocupados que eu também não estou“. Sinceramente, fez-me lembrar quando Ricardo Sá Pinto, também ele em Agosto (mas de 2012) disse, “não estamos fortes. Estamos muito fortes! Muito fortes…”
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Se eu estou preocupado? Bom, estando nós já 5 pontos atrás à 3ª jornada contra uma equipa que fez 91 pontos o ano passado… Sim, diria que estou inquieto. Só se eu fosse inconsciente, “tonto” ou desonesto poderia eu afirmar o reverso.
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Há mulheres que dizem ser… “moças de copo meio-cheio“. Eu não sendo mulher, não oscilo tanto entre um derrotismo histérico e um optimismo “fofinho“. Opto por ser feliz nas vitórias, mas “emocionalmente desprendido” nos insucessos. Também já fui “Índio“, mas isso já foi nos tempos de Alkmaar…
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Se me tivessem perguntado há 5 semanas se o Sporting ia “pelear” por ser Campeão. Tendo nós já perdido Feddal, Sarabia e Palhinha, mas tendo adquirido St. Juste e Trincão. Eu diria que iríamos lutar, embora sem Palhinha eu adivinhasse muitos infortúnios a defender.
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Agora diria que estou com sérias dúvidas, não de que vamos ser Campeões, mas de que sequer vamos lutar por tal desiderato. Diria (tal como após o empate em Braga) que muito dependerá do rendimento e fiabilidade de St. Juste e de Trincão começarem a carburar.
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E agora (duas semanas após a “gafe” em Braga) diria que também depende de quem vier substituir Palhinha. Repito, PALHINHA, e não Matheus Nunes, pois para mim, o legatário de Matheus já cá está, e chama-se Ugarte.
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Mister Amorim, o que tem a venda de Matheus Nunes a ver com o facto do Sporting para todos os efeitos jogar quase sempre no mesmo sistema há 900 dias?
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Na minha vivência, não há revoluções que durem para sempre. E da mesma forma, os revolvimentos tácticos, ao fim de uns mesociclos perdem a sua “frescura” e imprevisibilidade.
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Como diria Thomas Jefferson, a “Árvore da Liberdade” tem que ser regada regularmente com o “sangue de patriotas“, então a “árvore táctica” também necessita de se reformular amiudadamente, pois nem mesmo Pep Guardiola é o mesmo de há 14 anos, muito pelo contrário.
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Se um treinador emerge como um “ciclone” com um 3-4-3 arrojado e “sopra” tudo à sua frente, naturalmente, isso deixará os restantes técnicos de “pé-atrás” (se me perdoam o Brasileirismo…) e aguçará a curiosidade e devotamento dos restantes treinadores que irão escalpelizar a “traquitana táctica” edificada por Amorim (e os seus pares), exames esses com funestas consequências para a eficiência da equipa comandada pelo Mestre Amorim.
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Já o provérbio diz, “parar é morrer“. Por alguma razão, os tubarões nunca param de nadar.
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A realidade é esta, a única forma de manter a equipa “imponderável” do ponto de vista estratégico, é não a deixando estagnar. Agora, se essa capacidade de reinvenção inexistir, aí suspeito que muitas não-vitórias nos aguardam, e cada vez em maiores quantidades.
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Este (4ª jornada de 2022/23) é um “momento de aprendizagem” sobre o qual devemos reflectir e que não devemos subestimar.
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A conferência de imprensa de Rúben na passada Sexta-Feira foi “fracturante“. Pois desde os tempos de Marco Silva e Leonardo Jardim que não se ouvia um treinador “questionar” ou “desatender” os seus superiores hierárquicos.
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(aparentes)”Imputações” como o “incoerente não sou eu” ou a alusão a um novo treinador se vir a sentar na sua cadeira (num futuro próximo…?), pareceram-me “salvas de canhão” ao lado do “convés” da “Fragata Varandista“.
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Uma coisa é certa, já temos tantos (aparentemente) problemas, que se enveredar-mos (uma vez mais) pela autofagia… arriscamos a mais um suplício de 19 anos pela inóspita, árida e angustiante “région sauvage” do Futebol Lusitano.
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Estamos consigo, Mister. E os seus “pareceres sulfúricos” até podem ser justificáveis. Mas talvez alguma compenetração introspectiva também lhe faça bem.
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Esta nossa equipa joga assim há quase 3 anos porque é a configuração ideal, ou porque o nosso treinador não lhe consegue adicionar quaisquer “rugas” ou “cicatrizes” de natureza táctica?
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Uma vez, Luciano Spalletti disse que até as pedras da calçada de Roma já sabiam como jogava Francesco Totti… e daí, o declínio na sua produtividade.
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E sem criatividade, nada desabrocha, tal como sem reengenho, ponderação e adaptatividade ninguém (nem nada) se mantém no topo da “Cadeia Alimentar“. E isto não é a minha opinião, mas sim a de Charles Darwin.
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E acredite, meu prezado Mister, a nível trófico, os Leões é suposto estarem acima dos demais, sejam elas águias, ou criaturas quiméricas que mais a se assemelham a um compósito entre um cavalo marinho e um lagarto-de-komodo.
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Mister, se me perdoa a comparação, estamos em 2022, as mocinhas já não vão tresloucadas a correr até às lojas da Traina-Norell para mercar as suas farpelas. A “haute couture” evoluiu muito desde Agosto (Agosto, sempre ele…) de 1956, e como diria Sir Alex Ferguson, “nós controlamos a mudança ao aceitar mudar juntamente com ela“.
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Como é que estas fracturas, “guerras inter-estatais” e esta “atmosfera fratricida” se medica? Simples, é ganhando! Ganhando regularmente e preferentemente de forma arrebatadora, essa é a melhor “terapêutica” para aquilo que presentemente aflige o Leão, é com um ciclo de vitórias sustentável e empolgante.
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Se tal não acontecer… tudo (e todos) será colocado em causa. E nós neste Clube, temos “velhos do Restelo” (e “Robespierres” da Caparica”…) exímios na operacionalização de “guilhotinas”. E se elas vierem… nem uma “Maria Antonieta” Vila-franquense se escapulirá do “Terror” que provirá.
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Parafraseando as duráveis palavras de Herman Wouk, “Não há nada a fazer agora, senão ganhar a guerra!”
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Conceitos e façanhas temíveis acordai na mente do nosso caro Mister, e que elas nos devolvam às vitórias, “tout de suite!”
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Parque das Nações,
Segunda-Feira, 22 de Agosto de 2022,
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Texto: Santiago Gregório Fuentes.
Imagem: Direitos Reservados.
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