Apesar da vitória de ontem sobre o Santa Clara, penso que é justo dizer-se, que o Sporting de há um mês a esta parte, está a atravessar uma “mini-crise“. Registaram-se duas derrotas, e a vitória de ontem, não sendo contra nenhum “Papão”, ainda assim, foi tangencial e com alguma sorte devido à expulsão na equipa adversária. Não podemos deixar que a vitória nos “cegue” para os problemas bem reais que continuam a existir. O Sporting neste momento tem 2 problemas primários: 1) Tem alguns jogadores sem categoria para serem titulares num candidato ao título. 2) e tem alguns titulares num menor momento de forma.
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Não sei se estando em finais de Janeiro, se Rúben Amorim deu aos “rapazes” algumas cargas físicas extraordinárias tendo em mente alguma espécie de 2ª pré-época para preparar o ataque à 2ª volta, mas a equipa de momento, entre lesões e jogadores fora de forma, está fragilizada. Quanto à final vs Benfica, para mim, Jorge Jesus era e é de longe, muito melhor treinador do que Nélson Veríssimo, mas, Rúben Amorim já conhecia bem JJ, enquanto Veríssimo se calhar, ainda é uma… “quantidade desconhecida” que Amorim ainda não tenha tido tempo de “descodificar”.
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Na minha crónica anterior, ao analisar a derrota em casa contra o Braga, escrevi que tive pena que Rúben Amorim não tivesse tentado uma dupla entre João Palhinha e Manuel Ugarte, pois na minha óptica, Ugarte tem qualidade técnica e cultura táctica suficiente para substituir Matheus Nunes, e ontem, talvez devido ao infortúnio de Daniel Bragança, tivemos a oportunidade de ver essa dupla de “tractores” em acção. Para mim, até certo ponto, contra o Santa Clara e o seu potencial ascendente psicológico sobre o Sporting, tinha que ser um jogo de “cabedal” e de garra, e soubemos ser guerreiros, quanto baste.
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Assumindo que fisicamente não há nada de errado com os atletas, geralmente, os momentos de forma, atingem mais os jogadores de classe, de “finésse“, e para ultrapassar essas fases do colectivo, a equipa precisa de jogadores raçudos e atleticamente dinâmicos para “sacudir” a equipa e fazê-la sair do marasmo, razão pela qual, atletas como Matheus Reis e Nuno Santos são tão importantes esta semana, e para as próximas. Não sei como está a sua saúde e forma nos treinos, por isso, não sei que conclusões tirar do facto de Tiago Tomás ter ficado no banco, e ter sido Bruno Tabata titular no trio da frente.
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O Sporting venceu, mas não impressionaram, digo isto no sentido, em que o Sporting de Amorim está a ser vítima do seu próprio sucesso e “nota artística”, e a realidade, é que este Sporting actual, não é o Sporting da época anterior, ou o Sporting dos primeiros 15 jogos para o campeonato desta temporada, o “Leão” está débil e todos o sentem. Não tendo deslumbrado, ainda assim, pode-se dizer que passou a melhor equipa, mas mais uma vez, senti a equipa nervosa, mas felizmente, desta vez, com tempo suficiente para dar a volta, e ainda que com mérito, é inescapável que também tivemos sorte.
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Pote e Sarabia são os dois “mágicos” da equipa, mas são um espelho do que eu escrevi anteriormente, uma equipa fora de forma, sem inspiração. Sarabia foi eleito o “MVP” pelos jornalistas, mas para mim, essa distinção teria ido para Matheus Reis. Sarabia é um talento, tem qualidade técnica superlativa, mas não consegue ser constante ao longo dos jogos, neste momento, é relativamente fácil “marcá-lo” para fora do jogo. Pote, parecia “gémeo” de Sarabia, esteve muito desligado do jogo durante demasiado tempo, é certo que o Santa Clara jogou com um sistema defensivo, mas de Pedro Gonçalves espera-se sempre mais. Neste momento, parece que chega sempre 1 segundo atrasado para conseguir fazer a diferença.
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O Santa Clara pode não ter o nome ou o curriculum histórico, mas é sem dúvida um adversário duro de roer, e Antonio Adán não teve uma noite fácil, mostrando elasticidade e reflexos, mas, na organização da barreira, um jogador da sua experiência devia ter exigido mais. Luís Neto curiosamente, foi dos jogadores que teve uma noite relativamente tranquila, e com uma exibição serena e sem grandes erros a apontar. Curiosamente(ou talvez não), João Virgínia não foi titular neste jogo de Taça, o que talvez seja uma indicação, de que no final da época, não irá ficar por Alcochete.
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Gonçalo Inácio voltou a jogar no centro e esteve bem, no mínimo, esteve bem melhor do que contra o Braga uns dias antes, no meio de um colectivo ansioso perante o golo adversário, Inácio até foi dos que mostrou mais “fibra” e gelo nas veias, se ficar anos que cheguem para isso, tem perfil de futuro Capitão. Quem dera a este Sporting pós-Nuno Mendes, ter 2 Matheus Reis, um para central esquerdo, e outro para lateral esquerdo. Não joga sempre bem, mas o saldo é positivo, e quando “engata” é sem dúvida dos elementos mais dinâmicos e atléticos da equipa. E não tem falta técnica, tem velocidade para arriscar subir sem desguarnecer a defesa, e talento nos pés para desequilibrar lá mais à frente. Articulou muito bem com Nuno Santos.
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Nuno Santos mostrou a sua raça habitual e aparentemente, submeteu-se a uma operação de implantes capilares. Não se furtou a carregar no turbo(muito rápido), mas desta vez, para além de garra e velocidade, pareceu bem calibrado do ponto de vista técnico, cruzando com boa eficácia. Palhinha esteve bem, mas está longe de ser o Palhinha “vintage” da última época, tacticamente pareceu confuso para encaixar num colega “novo” no miolo. Não cometeu muitos erros com a bola no pé, mas a defender, nem sempre brilhou, sendo que, ainda assim, fez uma exibição em crescendo, melhorando defensivamente com o evoluir do jogo.
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Ugarte esteve bem, melhor do que Palhinha, levou alguns minutos para perceber os momentos do jogo em que podia arriscar subir no terreno, mas na globalidade, foi dos melhores jogadores em campo, aliás, algo que é hábito nele sempre que é titular. Este é daqueles, que só mesmo por lesão devia deixar a titularidade, pois raramente desilude. Bruno Tabata na frente esteve razoável, é um polivalente que faz de tudo um pouco, mas não parece ser “Mestre” em nenhuma posição. Lê bem o jogo, e mostra qualidade no passe. Ricardo Esgaio atacou bastante, e evidenciou “gasolina” para todos os 90 minutos, mas tecnicamente esteve trapalhão, com alguns cruzamentos menos felizes, continua a ser o mesmo jogador tecnicamente limitado que sempre achei que ele era no Braga.
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A troca de Matheus Nunes por Palhinha permitiu à equipa ser mais dinâmica a atacar, enquanto a entrada de Paulinho, sinto que afunilou mais o ataque da equipa, e Paulinho a rematar com o seu pé preferido, o esquerdo, mais parecia que estava a chutar com o direito… Continuo a achar que faz muita falta a Paulinho um extremo desequilibrador para que ele renda o que rendia em Braga, será com isso em mente que Amorim vem insistindo em Marcus Edwards?
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Rúben Vinagre entrou e tentou, mas falhou demasiados cruzamentos. Gonçalo Esteves substituiu Esgaio, e não consegue ainda mostrar aquilo que tem para oferecer quando é titular, mas combinou bem com Luís Neto para fechar o corredor direito. Tiago Tomás refrescou o ataque, “prendendo” a defesa do Santa Clara, mas de um craque espera-se sempre mais para além de “apenas” empenho e suor, e por enquanto, ainda não é jogador para fazer a diferença de forma regular, não supreende ao ser suplente.
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Texto: A.C.F.
Imagem: Sporting CP.