Ainda ontem, o Director do Futebol de Formação do Sporting Clube de Portugal, Professor Tomaz Morais disse que “a atitude é a qualidade mais importante dos jogadores“. Pessoalmente, não concordo, acho que há duas qualidades sem as quais não é possível existir grande matéria-prima para a formação de um grande futebolista. Para mim, esses dois factores são talento e maturidade/inteligência.
Por talento, quero dizer ou uma qualidade técnica inata fora do comum, ou uma genética que lhe confira um atleticismo invulgar. Quanto a maturidade(ou inteligência), de nada serve ter técnica ou atleticismo, se o jovem não se tiver percepção desse tesouro e a maturidade para o desenvolver. Há jogadores que só decidem verdadeiramente que querem ser jogadores aos 17(acontece com a maioria), outros aos 12, outros aos 28 anos de idade. Desnecessário será dizer, que se todos os 3 tiverem sido abençoados com talento, aquele que for mais maduro mais cedo, será o que irá chegar mais longe, pois mais cedo começará a trabalhar para desenvolver esse potencial, não irá esbanjar/desperdiçar anos da sua vida.
Com inteligência/maturidade, vem uma percepção de responsabilidade, de oportunidade, do nosso lugar, na sociedade, numa cadeira hierárquica, etc. mais depressa nos podemos livrar de questões supérfluas como o narcisismo fútil ou a indolência, gera responsabilidade, ética de trabalho, e permite-nos focar naquilo que nos poderá me teoria garantir rendimentos ou pláuditos.
Tornou-se comum usar frases simplistas como “não tem cabeça“, ou dizer-se que qualquer um que falha é “outro Fábio Paim“. O principal problema de Paim(um excelente miúdo) foi um de imaturidade, logo… tolice, ignorância, preguiça, vaidade, etc. Estes defeitos andam quase sempre todos de “braço dado”.
Há pouco mais de 1 ano, ainda a maioria dos Sportinguistas não tinham visto Joelson Fernandes dar um pontapé na chincha, mas o “hype” já nos deslumbrava com estórias de um fenómeno, de um prodígio, e todos temiam perdê-lo para os “super-predadores” como Arsenal que na altura se abeirava do pretenso craque com propostas de milhões e euros. O medo existia, pois os adeptos, iludidos pela “publicidade” estavam convencidos de que o jogador se realizasse o seu potencial viria a valer mais, muito mais, quem sabe um novo Ronaldo(NUNCA acreditei nisso).
Alegadamente, o Arsenal em 2020 fez duas propostas, uma de 20M€ e outra de 32M€, e a Sporting SAD, supostamente, só o vendia por 45M€, mas os adeptos desesperavam(e criticavam) essa fasquia, e faziam-no, porque nas suas mentes, Joelson iria(se bem potenciado) valer muito mais do que isso. Até a própria SAD se degladiava por renovar com o atleta, e o entrave, era a cláusula de rescisão, o Sporting queria uma de 100M€ ou 80M€, enquanto o atleta(ou os seus representantes) não aceitavam mais de 60M€.
Eu devo confessar isto, eu sempre fui carrancudo, rezingão, ou pelo menos, desde os meus 16 anos que sou assim, e já lá vão 3 décadas. Sempre ouvi dizer que não se deve julgar um livro pela sua capa, uma pessoa pela sua cara, ou uma serpente pela sua cor, mas a verdade, é que muitas vezes o que se manifesta no exterior(no aspecto, na postura, etc) dá-nos uma ideia do interior. Mas, considero-me um “psicólogo de bolso”, sou um curioso da natureza humana, e quando se avalia um jogador, com os nossos olhos, ouvidos e cérebro, devemos não só olhar para a técnica, atleticismo, etc, mas igualmente para a personalidade do jogador e dos encarregados de educação(que muitas vezes são uma antevisão daquilo que a personalidade do jogador será dentro de poucos anos).
Olho para Joelson, e não vejo um rapaz(18 anos) inteligente, não vejo um rapaz objectivo, vejo um sonhador, um tontinho, um tolinho, alguém cuja mente tem menos anos que o seu corpo, alguém que não tem o cérebro para potenciar em idade jovem o seu potencial. Quando topo jogadores que cultivam o “look” de “rei da discoteca“, “modelo de instagram“, ou “palhacito“, percebo logo que naquela cabeça não há maturidade nem inteligência para tirar proveito do talento que Deus lhes deu. Geralmente os miúdos humildes, discretos e educados são melhores apostas, veja-se os casos de João Moutinho, Eric Dier e João Mário Eduardo. A arrogância, o egocentrismo e o narcisismo são positivos, mas apenas quando andam de “braço dado” com ética de trabalho, força mental, atitude mental positiva e ambição.
Não quero soar velho, mas quando vejo jovens que gastam muito tempo e dinheiro em penteados, em roupa, em tatuagens, etc, fico com a ideia de tratar-se de jovens auto-absorvidos, demasiado preocupados com a imagem que projectam fora dos relvados, é aquilo a que eu chamo de narcisismo não-saudável, pois alimentar um ego parvinho, mas não alimenta uma força mental forte que lhes permita trabalhar na direcção das suas ambições. Hoje em dia, duas excelentes ferramentas incisivas para a psicanálise dos jovens, são os Twitters das moças e os Instagrams dos rapazes, logo aí, percebemos quem tem neurónios, e quem tem ar quente na cabeça, quem tem personalidade, individualismo, pensamentos originais, quem é fútil, vápido, etc etc.
Esqueçam os 100M€, 45M€, 32M€ ou 20M€, quem nos dera que o Arsenal(ou qualquer outro) agora desse 10M€ por Joelson, pois sem querer ser hostil, mauzinho ou ofensivo, vejo ali um pobre tolo que faz figuras de palhaço, e daqui por poucos anos, andará a contar estórias tristes sobre quando era preguiçoso e sonhava acordado que vivia num Mundo de fantasia, em vez de estar focado no trabalho que iria garantir sustento, a si, e aos seus.
E para todos os discursos tecnocráticos e triunfais de psicopedagogia nas Academias, é impressionante como nunca ninguém tem culpas nestes falhanços em formar homens, são sempre os jogadores que eram “maus meninos”, a culpa morre sempre solteira… Os Pais não podem fazer tudo, e por vezes, os psicólogos empregues pelos Clubes parecem não fazer nada, excepto andarem a dar palestras em universidades e Núcleos, e a auto-promover-se colados às marcas dos Clubes. Há muito que defendo que esta moda dos psicólogos e psicólogas no Futebol de Formação devia levar uma grande vassourada, juntamente, com os professores que as trouxeram para dar emprego a alunas suas nas faculdades. E deviam apenas contratar(e sem nepotismos) uns poucos mas competentes e experientes psiquiatras(homens) que façam a diferença. Isso, e valorizar mais os treinadores e coordenadores técnicos que saibam dar o exemplo de responsabilidade, humildade e trabalho, que saibam ensinar o que é ser homem, pois na minha experiência, não há melhor psicólogo no Futebol do que um treinador com bases na psicologia. Quando vejo psicólogas estagiárias de 25 anos a tentarem ensinar rapazes adolescentes a serem homens, só posso sentir pena desses moços.
Texto: A.C.F
Imagem: Sporting CP.