Quando o SL Benfica demonstrou interesse em contratar João Mário Eduardo, eu presumi inicialmente, que Jorge Jesus, à imagem do que tinha feito em 2015/16, tencionava utilizar João Mário como falso extremo-direito nalguma espécie de 4-4-1-1(com Waldschmidt atrás de Darwin). Assim pensei, pois para mim, João Mário não podia jogar no “centro do parque” de um meio-campo a 2, a menos que tivesse ao seu lado um João Palhinha, ou um Al Musrati. Daí, sempre presumi, que ou Jorge Jesus utilizaria JM no corredor direito, ou garantidamente iria trazer um “6” melhor do que aqueles que o Benfica já tinha no seu plantel.
Acompanho João Mário desde 2005, quando ele jogava como central nos Infantis do Sporting, e desde os seus 13-14 anos, que eu acreditava que ele iria ser um craque, embora, deva confessar, que pensei que ele iria atingir um patamar mais elevado na sua carreira, mais alto do que aquele que atingiu até agora. Por vezes, jocosamente até digo, que o “Jomi” com 14 anos era mais jogador do que é agora com 28, até psicologicamente parecia ser um jogador mais forte.
O João Mário como “8” não tem segredos, Não defende de forma exímia, tem pouca intensidade, não faz passes de rotura. É na minha opinião, um jogador muito útil para uma equipa que queira jogar em posse, pois a verdade, é que tem muito critério(e cautela) no passe, perde poucas vezes a bola, ela não “queima” nos seus pés, e a equipa respira melhor. Mas, isso é bom para um de dois cenários: 1) Para uma equipa que possua muita criatividade nos seus extremos, ou 2) para entrar na equipa vindo do banco de suplentes, quando o resultado já está feito, e o que interessa não é arriscar, mas sim “congelar” o jogo.
João Mário não é Andrea Pirlo nem Xabi Alonso, não é um médio de grande criatividade e capaz de fazer passe longos habilitados a rasgar uma defesa. Não querendo ser malicioso ou redutor, mas, o “prato forte” de João Mário consiste em passar a bola para trás, para os lados, e para o colega que está mais próximo. Ele tem o perfil de jogador que encaixa bem numa equipa defensiva, ou seja, cujo jogo se baseie no passe curto e sem risco.
Os Benfiquistas ficaram entusiasmados com a contratação de JME, mas será pelo seu valor desportivo evidenciado ao serviço do Sporting em 2020/21, ou será antes pela…. “bicada”(“pun intended“) ao rival? Não quero acreditar que a sua contratação tenha sido um “golpe de relações públicas” para saciar a hostil massa adepta anti-Vieirista. 27,5M€ é uma “pipa de massa” por um “gestor de jogo” que ajuda a segurar um resultado, e não é um grande recuperador de bolas. Para João Mário resultar, o Benfica necessita de um grande “6”(como Musrati) ou “8”(como Ugarte) “Box-to-Box” ao seu lado, ou jogar num sistema com 3 médios, e necessita de trazer pelo menos um extremo de grande qualidade, que saiba vir a centro buscar jogo, antes de subir a rasgar a defesa adversária.
Inobstante o Benfica ontem ter ganho ao Lille(Campeão Francês em título) com JME e Julian Weigl no meio, tenho sérias dúvidas que essa dupla funcione em jogos a doer, e nem falo no aspecto criativo, acho que nem no processo defensivo vai funcionar apesar de ambos terem formação como “6”, e escrevo isto, mesmo tendo durante um par de anos visto JME jogar muito bem como “6”.
Em tempos idos, os adeptos referiam-se a Pedro Barbosa como o “Croissant“(adoro, sobretudo com creme de ovo fresquinho) ou “Pastelão”. Diria que é uma alcunha que também assenta bem ao João Mário dos anos mais recentes, acho-o muito “mole”, “narcoléptico”.
Em 2015/16 João Mário apesar de não ser muito rápido ou explosivo jogou com intensidade inusitada e QB sob a batuta de Jorge Jesus. Portanto…. nesta próxima época, esse JM vai miraculosamente regressar só porque agora tem esse treinador que conseguiu extrair o melhor dele, ou será que esse João Mário(que em teoria, está no auge da sua plenitude física) já faz parte do passado? Terá JM ainda ambição, profissionalismo, capacidade física e fome de títulos para fazer o relógio do seu corpo recuar 6 anos? 6 anos é muito tempo, e a inquietude reina entre as hostes Benfiquistas antes dos 2 jogos Europeus decisivos, e mais tarde, um acto eleitoral.
Há Benfiquistas que estão satisfeitos com a forma de João Mário, há outros que estão descontentes, e ainda outros que o aceitam, desde que a perspectiva de futuro seja um de uma de clara melhoria exibicional. Pessoalmente, não acho que seja uma questão de forma física e pré-época. Acho que desde o Euro 2016 que João Mário joga assim, e da forma como o Benfica de momento está estruturado(em termos de plantel e tácticamente), não antevejo uma melhoria radical num futuro a curto, médio e longo prazo.
João Mário será útil ao Benfica, e estou certo que ele se quer “vingar” do Sporting sendo Campeão pelo rival encarnado, da mesma forma que Rúben Amorim quererá mostrar que consegue ser Campeão sem João Mário. Vai ser uma época interessante, e de momento, aposto no Sporting. Vendo sóbriamente o “copo meio cheio” versus Lille, o que vi de JM não foi transcendente, e não será ele e mais 10.
Texto: A.C.F.
Imagem: BTV.
XI titular com que Jorge Jesus foi ganhar à Luz por 3-0 a 25 de Outubro de 2015.