Para quem tivesse observado atentamente os treinos do Sporting em Alcochete(vídeo), podiam ficar com uma ideia sobre o “novo” Bruno Tabata, pois nesses treinos já era possível vê-lo a jogar sempre próximo do médio defensivo. E mesmo nessas curtas amostras dos exercícios ministrados por Rúben Amorim, já era possível ver-se um Tabata de toque curto, canhota(obviamente)”educada”, passe longo, bom drible, bom posicionamento, boa antecipação, e que sabe fugir à pressão adversária.
Já nos jogos no Algarve, conseguimos ver algo mais, uma condição física já apreciável, boa dinâmica com e sem bola, visão de jogo, a envolver-se no ataque e na defesa, e um toque de bola diferenciado e apropriado para um “8 criativo”. Elucidado a atacar, participativo nas tarefas defensivas, destemido a assumir responsabilidades, qualidade no 1×1, habilidade a segurar a bola quando pressionado, remate fácil, etc. O que se viu versus Belenenses SAD deixou água na boca, embora, diga-se, verificou-se contra um adversário que ainda que sendo de 1ª divisão, não pressionou muito. Curioso por ver Tabata a “8” contra uma equipa que ataque mais e jogue com um ritmo mais elevado.
É certo que o Brasileiro ainda terá que lidar com outros aspirantes à posição, como será o caso de Daniel Bragança, possivelmente Matheus Nunes, e talvez, Manuel Ugarte, mas se a 31 de Julho tivermos Tabata(24 anos, João Mário Eduardo tem 28) à esquerda de João Palhinha, será mais um feito para Amorim adicionar ao seu “résumé” de pequenos milagres. Jorge Jesus “inventa” laterais esquerdos, e o seu “clone” aparentemente quer agora “criar” (re)adaptar um “8”. Pelo que vi, acho que já posso dizer que Tabata vai dar um “8” acima da média no que concerne ao processo ofensivo, dúvidas para mim, permanecem quanto ao que pode dar quando a equipa não tem a bola.
Uma coisa é certa, quando Tabata chegou ao Sporting, a sua posição primária era da “7”, sendo que também podia ser útil a “11” e a “10”, mas no final da época passada, após as prestações dele na direita(e não só), eu até o via como um atleta dispensável(nunca o vi com explosividade e velocidade para fazer a diferença como extremo, diria que nessa posição, fazia mais a diferença pela capacidade de cruzar e de passe) a ser envolvido em alguma permuta para conseguirmos um jogador que nos fosse mais útil, mas com esta nova vida a “8”, Tabata está a tornar-se possivelmente uma 1ª opção para o XI titular, provavelmente à frente de Daniel Bragança.
Diria que para ser um titular destacado, Tabata ainda precisa melhorar a sua leitura de jogo, fiquei com a impressão de que teve dificuldades em percepcionar quando devia acelerar o jogo e quando devia resguardar o esférico. Estou igualmente curioso por o ver assumir mais responsabilidades em jogadas de bola parada. Vs Belenenses SAD vi um médio criterioso no passe, que perde poucas bolas e revela-se muito aguerrido e intenso tanto quando a equipa tem, como quando não tem posse de bola. Mostrou também perícia em chegar a zonas de definição com movimentos profundos, e ainda exibiu capacidade de “pressing” e forte reacção à perda de bola, mesmo nos instantes finais da partida.
Mesmo sendo um jogador de características criativas e forte no drible, Tabata evidencia a tendência para guardar a bola e esperar pela desmarcação de um colega, quase que diria que é um “gestor de jogo”(tal como João Mário), mas mais vocacionado para atacar(como um “10”) do que para defender, ou pelo menos, a julgar pelo “body of work” que até agora, teve oportunidade de mostrar-nos. Possivelmente, Rúben Amorim optará por Palhinha e Ugarte em jogos contra equipas mais fortes, e Palhinha e Tabata vs equipas que joguem mais fechadas. A seu tempo descobriremos.
Texto: A.C.F.
Imagem: Sporting CP.