Em função da Sporting SAD estar a protelar as negociações com o Inter por João Mário Eduardo(JME), presumivelmente, mais para forçar o atleta a ceder nas suas pretensões salariais(2,7M€ limpos por ano em Itália) do que propriamente pelo preço do seu passe(7,5M€. A oferta do Sporting foi de 3M€ mais 2M€ por objectivos), agora, um “intruso” na forma da Benfica SAD entrou em cena para aparentemente tentar desviar o negócio.
Quando João Mário se mudou para Itália em 2016, foi assinado um contrato que incluía uma “cláusula anti-rivais” a vigorar até 2021 ou 2022 em que caso um Clube filiado na Federação Portuguesa de Futebol fizesse uma oferta pelo jogador, o Inter estaria obrigado a notificar o Sporting com um prazo de 48 horas(ou apenas 120 minutos, caso uma proposta chegue no último dia de mercado) para decidir se queria igualar a oferta em questão.
Haverão dúvidas se cláusulas desta natureza serão legais(sobretudo na Europa), pois essencialmente, estamos a falar de negar o direito de trabalhar a um cidadão, e a questão quase de certeza se arrastaria pelos tribunais, para saber se a mesma era aplicável, ou sequer se o contrato era explícito, ou sujeito a outras interpretações jurídicas. Em 1999, Simão Sabrosa mudou-se de Alvalade para Camp Nou, 2 anos depois, em 2001, o Benfica fez uma oferta pelo jogador, e o Barcelona notificou o Sporting, sendo que este último optou por não cobrir a oferta do seu rival da Segunda Circular.
Ainda de acordo com o dito documento, se o Inter transferir JME para o Benfica(ou qualquer outro Clube filiado na FPF), o Inter teria que pagar 30M€ ao Sporting, embora na pior das hipóteses, presumo que em tribunal, caso obrigados a pagar, provavelmente só pagariam uma % desse valor). Embora, eu suspeite que os advogados do Inter irão alegar que o pagamento dessa quantia apenas se verificaria se não tivessem notificado(ou em tempo útil, 48 horas) o Sporting da proposta adversária.
Seguramente, haverão interpretações convenientes de todos os lados(Sporting SAD, Benfica SAD, Inter, e Federico Pastorello, sendo que estes 3 últimos obviamente funcionariam “contra” o Sporting), e é para isso, que existem os tribunais, atrevo-me mesmo a dizer que se o Sporting vencesse isto nos tribunais, seria um caso “landmark” ao estilo da Lei Bossman, e as cláusulas anti-rivais tornar-se-iam cada vez mais comuns.
Não me surpreenderia se Jorge Jesus quisesse JME(28 anos) para substituir/rodar Pizzi(32 anos em Outubro) como falso-extremo direito, ou para ser o “8” dos Encarnados Ironicamente, Pizzi é Sportinguista, enquanto João Mário é Portista, portanto, o factor emocional nem sequer entrar nesta equação. Tendo em conta que a melhor época da sua carreira foi até agora a de 2015/16 sob a batuta de JJ, compreende-se que JME esteja igualmente interessado em voltar a estar às ordens do timoneiro Benfiquista.
Olhando para o XI tipo do Sporting em 2020/21, se eu tivesse que escolher jogadores “imperdíveis” ou mais difíceis de substituir, JME não estaria de modo algum no topo da lista. Muito antes dele estaria Antonio Adán, João Palhinha ou Pote(e a SAD prepara-se para renovar com os 2 últimos) . JME revelou-se esta época um bom gestor de jogo, mas que nem sempre teve “gasolina” para aguentar os 90 minutos, e “assinou” 2 golos e 2 assistências(compreensivelmente, nem sequer foi chamado ao Euro 2020) em quase 40 jogos, foi pouco(Pizzi, por exemplo, “assinou” 6 golos e 4 assistências), provavelmente, um João Moutinho(35 anos em Setembro próximo) conseguiria fazer tão “pouco”.
Na minha opinião, o Sporting está a realizar um “jogo” de “Brinkmanship” tentando levar as “(não)negociações) com o Inter ao limite, na esperança que JME fique ansioso e aceite reduzir o ordenado. O “problema”, é a entrada em cena de um “intruso” chamado Benfica, entrada essa que favorece o Inter, e favorece JME, pois esse novo “player” nas negociações, poderia em teoria levar o Sporting a ceder, e aceitar pagar a JME o que ele deseja em termos de ordenado. O que me leva a questionar, se esta “intrusão” do Benfica é real, ou se não será algo “plantado” na imprensa pelo Inter e pelos representantes(Federico Pastorello) do atleta, com o propósito de “enervar” o Sporting.
Isto dos cabeçalhos de “JME já deu o SIM ao Benfica” podem reflectir a realidade, ou podem apenas ter o intento de fazer o Sporting “tremer” e ceder. E possivelmente, nos próximos dias irá surgir a narrativa de que o Benfica não colocou obstáculos para Nuno Santos seguir do Rio Ave para o Sporting, e o Sporting agora deveria fazer “quid por quod“. O Benfica até pode ter pareceres jurídicos a indicar-lhe que o contrato não tem validade, mas outra questão será o Benfica convencer o Inter disso mesmo, uma vez que a pagar, seria o Inter a ter que desembolsar.
Durante semanas tivemos que ler que Pipa, Wass, Mané, Lille, etc eram “peças” para forçar o SC Braga a ceder por Esgaio, agora, estamos a levar com Villareal, Sevilha e Benfica(que obviamente “mexe” mais com as emoções dos adeptos Sportinguistas) a serem “peças” para enervar o Sporting. A ser verdade, que “wicked game” jogam estas pessoas nos bastidores através dos seus hipotéticos “peões da brega” na Comunicação Social. Não admira que cada vez mais, também as mulheres tenham interesse no Futebol via o prisma sensacionalista da CMTV. Elas podem não ficar fascinadas pelo Futebol jogado em si, mas as “novelas” e intrigas de bastidores rivalizam com qualquer clássico dos anos 80: “Dallas“, “Dinastia” ou “Falcon Crest“.
Se a Sporting SAD e o seu Departamento Jurídico acredita que o contrato é explícito, então sentir-se-ão em pleno controlo da situação. Têm o negócio por JME em “águas da bacalhau”, à espera que ele aceite baixar o salário, e se porventura, o Benfica “entrar”, os “Leões” estarão serenos, sabendo que o Inter está obrigado a informar o Sporting, e na pior das hipóteses, o Sporting simplesmente terá que igualar a proposta encarnada. Veremos…
Pessoalmente, acho JME desde 2016 um jogador “mole”, pouco dinâmico, muita técnica, mas pouco explosivo, não verticaliza o suficiente o jogo, perde bolas e raramente correr atrás delas. Aceito que valha 7,5M€, mas não “quebraria” o tecto salarial por sua causa. Preferia correr o risco de o substituir por Ryan Gauld, pois esse ao menos, foi um dos 4 melhores médios do campeonato, algo que não pode ser dito sobre JME. Acredito que Frederico Varandas queira bastante manter JME, e aqui, talvez sejam Hugo Viana e Rúben Amorim a não querer gastar demasiado do orçamento no jogador que não consideram um “Franchise Player“.
Texto: A.C.F.
Imagem: Sporting CP.