Nesta próxima Sexta-Feira dia 12, será a data de regresso ao activo do melhor pugilista “pound for pound” do planeta, Vasyl Lomachenko, também conhecido como “Loma“, “Hi-Tech” ou “The Matrix“.
Entre outras, este combate terá a particularidade interessante de ser no Staples Center(21.000 lugares) de Los Angeles. Recordo-me bem de quando Oscar De La Hoya e Shane Mosley “baptizaram” esta arena em Junho de 2000. Já é terreno sagrado para o Boxe, e será interessante ver quantos adeptos o pequeno génio Ucraniano conseguirá meter dentro da arena, pois este também é um teste ao “drawing power” de Loma na Costa Oeste, atendendo a que devido ao contingente de emigrante Ucranianos na Costa Leste, até agora, Loma tinha sido promovido sobretudo como um “East Coast Fighter“. E já que LeBron James não dá alegrias a ninguém em LA, que os adeptos se levantem e batam palmas quando o pequeno bi-medalhista de ouro olímpico se começar a dirigir para o seu “escritório” no ringue de Boxe.
Em princípio “Loma” irá combater 3 vezes em 2019, em Abril, em Agosto e em Dezembro, e se o melhor pugilista na divisão de 135 libras(“Lightweight“) combater 3 vezes num ano contra 3 adversários Top 10, então poderá dizer-se que este foi um ano mais do que satisfatório, não excelente, mas também não medíocre.
Existem adeptos que estão desiludidos pelo facto de Lomachenko ir defrontar o Inglês Anthony Crolla, mas eu pessoalmente não entendo as críticas ou desilusões, pois Crolla neste momento é um “Lightweight” Top 10, talvez até Top 5, e estava disponível, portanto, na minha óptica, este é o melhor(ou um dos melhores) combate possível neste “junction” da carreira do Ucraniano.
Se apreciarmos o panorama das 135 libras, Lomachenko é o melhor, Mikey Garcia é o 2º melhor, mas Garcia combateu(e 12 libras acima) tão recentemente quanto 16 de Março. Robert Easter Jr. talvez(talvez, talvez…) seja o 3º melhor da divisão, mas o ex-campeão da IBF vem de um longo período de inactividade(e uma derrota), e seria pouco ajuizado defrontar já um adversário de “Top” como “High-Tech” Lomachenko. 4º melhor em teoria será Richard Commey(bom miúdo, falei com ele este ano), actual campeão da IBF, mas que sofreu uma lesão na mão num combate a 2 de Fevereiro que o deixou no “estaleiro” durante 2 meses sem poder treinar. Depois de Garcia, de Easter e de Commey eu diria que Anthony Crolla, Luke Campbell e José Pedraza constituem o resto do Top 7 da divisão.
Portanto, com Garcia, Easter Jr e Commey indisponíveis, e tendo Lomachenko já derrotado Predaza em Dezembro último, os únicos dois nomes credíveis são os dois Ingleses, Anthonny Crolla e o medalhista Olímpico de Ouro, Luke Campbell, dois pugilistas que na minha opinião estão em níveis de competência semelhantes.
“It’s a given” que em 2019 Lomachenko irá combater contra Richard Commey para unificar os títulos WBA, WBO e IBF, possivelmente em Dezembro, e se até lá Lomachenko defrontar Crolla amanhã, e vamos supor que em Agosto defronta Luke Campbell, será um ano muito bom, afinal de contas, o Ucraniano terá defrontado 3 dos 6 adversários que juntamente com ele são o top 7 da divisão. Desilusão? De forma alguma, só para quem for irrealista.
O que “oferece” Crolla? Lomachenko não brilhou tanto quanto se esperava contra Jorge Linares(1,73 de altura), José Pedraza(1,74) e Miguel Marriaga(1,73), e Crolla tem 1,74 de altura. Crolla é um ex-campeão Mundial nas 135 libras pela WBA, e combateu duas vezes contra Jorge Linares, tendo ido a distância em ambos os combates, portanto, tem no mínimo 24 rounds de experiência contra um “world class operator“.
A minha experiência diz-me que quanto maiores(naturalmente maiores, portanto falo da estrutura óssea) maior é a longevidade desportiva dos atletas. Se Lomachenko é naturalmente um “Junior-Lightweight“(130 libras) pequeno, então é justo pensar-se que atleticamente, aos 31 anos de idade, Loma já passou do seu auge. Se eu tivesse que adivinhar(e isto é mais fácil de se fazer no final das carreiras…), eu diria que o auge de Lomachenko foi entre meados de 2014 e finais de 2016.
Lomachenko é tecnicamente tão evoluído, que as expectativas de um “show” de talento são sempre enormes, mas versus Marriaga, Jorge Linares e José Pedraza eu vi um Loma com as feições muito tocadas no final do combate. Após o combate contra Marriaga, Lomachenko disse que necessitava de trabalhar mais na sua defesa, e de facto, mostrou muita habilidade contra Guillermo Rigondeaux(que é um atleta naturalmente mais pequeno). Mas nos dois combates seguintes(Linares e Pedraza), Loma subiu à divisão de 135 libras, e apesar de vencer ambos os combates de forma inquestionável, mais uma vez viu-se muita mossa na sua cara.
Em 3 dos seus 4 últimos combates, fiquei a ideia de que estará em declínio em termos de mobilidade, de velocidade reactiva, de resistência aeróbica, etc, isto já para não falar que está agora(nas 135) a defrontar adversários que não obstante terem menos talento, compensam sendo fisicamente maiores(e que consequentemente, sentem menos o efeito dos golpes do homem mais pequeno). E um fascinante duelo de “talento vs tamanho”, um “Maradonna” vs “Ruud Gullit“.
É importante realçar que sendo Lomachenko um atleta cujo peso natural será talvez de 128 a 130 libras(ou até mesmo 126), contra Linares em Maio último, “Loma” enfrentou um adversário talvez 10 a 15 libras naturalmente maior, e mesmo assim, “Hi-Tech” venceu por TKO. Sem surpresas, no “training camp” em preparação para Crolla(um atleta fisicamente semelhante a Linares, mas ligeiramente mais pequeno e com menos talento, tanto no plano técnico como atlético), o treinador Anatoly “Papachenko” Lomachenko instruiu o seu filho para fazer treino específico(com Cicílio Flores, presumo) para ganhar massa muscular, possivelmente para ele poder crescer(artificialmente, porque naturalmente(a sua estrutura óssea) ele já está numa terra de gigantes) e aclimatizar-se melhor à divisão de 135 libras.
É sabido que Lomachenko quer SEMPRE defrontar os melhores adversários, e se possível, os outros campeões. Ele próprio admitiu que não se sente motivado para treinar para Crolla. Mas eu vejo este Lomachenko Vs Crolla como um combate interessante, pois é o melhor da divisão contra um dos melhores da divisão, é o pugilista mais talentoso(e talvez mais desmotivado) do Mundo contra um adversário com menos talento mas fisicamente maior.
E eu diria que para mim a curiosidade principal não é se Loma vence(em algumas casas de apostas, Lomachenko é favorito por “odds” de 100 para 1, incrível Vs um adversário Top 7!!), ou se ele vai vencer por KO/TKO, pois em condições normais, eu já espero esses dois desfechos. Não, a minha curiosidade prende-se sobretudo com descobrir se Loma vai ganhar de forma fácil, dominante, e…. se após as críticas(à sua idade e exibições mais recentes) nos últimos 2-5 meses, se ele vai tentar vencer sem sofrer qualquer mazela na sua cara, ou se vai ser fiel à sua natureza de correr ricos para agradar aos adeptos.
A sua ambição de vencer sempre por KO/TKO fá-lo ser um pugilista mais agressivo do que seria normal e necessário para um atleta que é o pugilista mais talentoso desta geração. Loma é um boxeador audaz, ambicioso, alguém que está disposto a correr riscos, querendo sempre os melhores opositores e ganhar-lhes de forma dramática! Ele é talvez demasiado audaz para alguém com tanto talento. Uma coisa é certa, tenho visto Loma frustrado, frustrado consigo próprio, mas acima de tudo, frustrado com as críticas às suas exibições, e frustrado por não conseguir defrontar sempre(!) os melhores oponentes.
O “Baryshnikov do Boxe“(como eu o baptizei) está preparado para regressar, Sexta-Feira subirá a cortina, e desejamos não um Lomachenko, mas sim o melhor Lomachenko, uma exibição “vintage“. Nos anos 60, 70 e 80, “Misha“(Baryshnikov) deslumbrava os “cognoscenti” ao serviço do Mariinsky Ballet ou da American Ballet Theatre, amanhã “Loma” tentará deslumbrar aqueles sortudos que fizerem a peregrinação até ao Staples. E cada vez que este artista entra no ringue, existe a possibilidade de se ver algo memorável e histórico.
A.C.F. #ACFblog.
BARYSHNIKOV pintado por Irina Belotelkin.